Dentro de Mim

"Aqui começa o meu descampado Ou o meu jardim cultivado; Aqui começa a minha queda vertiginosa Ou a minha entrada gloriosa; Aqui, somente aqui, Começa o que jamais acabará aqui; Aqui serei muito ou serei pouco, Serei pobre ou serei louco, Serei charco, lago, rio ou mar Serei o que conquistar Aqui serei o que tu quiseres E o que eu quiser, Mas é aqui que tudo começa Aqui e nada mais do que aqui" - Vasco Gonçalves

segunda-feira, 30 de agosto de 2004

Será que não?

As horas passam, por vezes, sem sabermos o que fazer. Tentativas para acalmarmos a dor que não pára de crescer. Mas porque dói, antes do tempo?

Quando precisamos de nos acalmar, de valorizar a razão, sentimos o coração falar mais alto. Então, o dia nasce, o sol entra pela nossa janela, que esquecemos aberta, ou não tivemos força para fechar quando a noite nos assolou, sentimos a claridade nos olhos, mas não nos levantamos. Alguém se senta na beira da nossa cama e diz para nos levantarmos, mas quando vê as lágrimas correrem, deixa sair um suspiro e muito baixinho diz: - Deixa-te estar!

E assim fazemos, continuamos a acreditar que o dia ainda não nasceu, que não temos razões para nos levantarmos, que nada existe fora da nossa cama. Olhamos o telefone de soslaio…como se esperássemos um telefonema que não acontecerá, tentamos alegrar-nos com uma música, mas a rádio canta a triste de sina de duas almas.

Tudo isto sentimos, quando vemos que afinal não temos a resposta para todas as questões, que a vida nem sempre segue pelo caminho que desejámos. Quando acontece, queremos que nos protejam, que nos digam palavras de amor, que nos façam acreditar que sem nós a vida não faz o mesmo sentido….uma espécie de canção de amor.

Será que já não há canções de amor?

Onde está a que me pertence?


quinta-feira, 26 de agosto de 2004

Vida de Estudante

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Durante o período de férias, locais habitualmente vazios enchem-se de pessoas, enquanto outros, que estão sempre a abarrotar, são assombrados pelo eco de algumas vozes perdidas. A sensação de ver o campus da nossa universidade vazio é medonha.

No entanto, aquela angústia, que me acolheu há alguns dias atrás quando fui matar saudades daqueles lugares de um significado tão especial, transformou-se em alegria.

Esta cidade universitária, que perde muito do encanto nos meses de Verão, começa a preencher-se a pouco e pouco.

Nos prédios amarelos (muitos saberão do que falo), grande parte dos panfletos “ALUGA-SE” começam a desaparecer, enquanto outros anúncios tomam lugar nas paredes dos diferentes complexos (se há alguém que procura um companheiro para partilhar um apartamento, há outro alguém que procura um lugarzinho para se acolher). Como se ainda não bastasse, nos autocarros já se vêem os primeiros estudantes de malas em punho olhando ternamente a menina dos seus olhos. Ver alguém trajado, sob um sol abrasador (sim! meus amigos, o calor voltou!) é o delírio de muitos.

É bom saber que o reencontro com muitos de vós está para breve, é bom saber que falta pouco para "TU" estares na minha cidade a tempo inteiro, é bom saber que temos um longo ano pela nossa frente (as ideias para o Enterro da Gata, a tantos meses de distância, já começam a surgir), é bom saber que haverá sempre conversa para "antes", "durante", e "depois" das aulas.

É tudo isto que atenua a chegada dos exames (Setembro está aí!!), que acalma as lágrimas ao lembrar "a minha menina", que dentro de pouco tempo se vai despedir mais uma vez de mim…

Vida de Estudante (não quero outra…)!!!!


quarta-feira, 25 de agosto de 2004

"Saudade"

"Saudade é reviver cada momento,
sentir as mesmas emoções
sem cogitar que tudo se passou há tanto tempo.

Saudade é acordar de manhã
e ter para o ente amado, o primeiro pensamento
e os demais, que vão invadindo a mente
pelo resto do dia.

Saudade é envidar todos os esforços para esquecer
sem contudo perder a mania
de retomar os restos tangíveis que permaneceram,
com os olhos marejados
e descobrir que estes "restos tangíveis" estão vivos
e são ainda o nosso maior e melhor legado.

Saudade é ter a impressão de que nada aconteceu
que ele não partiu, não traiu ou morreu
e que, a qualquer momento,
não importa se aqui ou além
se nesta ou em outra vida,

Retomaremos o trajeto interrompido
pelo revés inesperado
e estaremos de novo
caminhando
lado a lado
!"

Fátima Irene Pinto


segunda-feira, 23 de agosto de 2004

"O Prometido é devido"

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"Naquele trilho secreto,
Com palavra santo e senha.
Eu fui lingua e tu dialecto
Eu fui lume e tu foste lenha.

Fomos guerras e alianças,
Tratados de paz e persangas.
Fomos sardas, pele e tranças
Popelina, seda e ganga.

Recordo aquele acordo,
Bem claro e assumido.
Eu trepava um eucalipto,
E tu tiravas o vestido.

Dessa vez tu não cumpriste
E faltaste ao prometido
E eu fiquei sentido e triste
Olha que isso não se faz.

Disseste que se eu fosse audaz
Tu tiravas o vestido
E o prometido é devido,
O prometido é devido.

Rompi eu as minhas calças,
Esfolei mãos e joelhos
E tu reduziste o acordo
A um montão de cacos velhos
.

E eu que vinha de tão longe,
Do outro lado da rua,
Fazia o que tu quisesses,
Só p'ra te poder ver nua.

Quero já os Almanaques,
Do Fantasma e do Patinhas.
Os Falcões e os Mandrakes,
Tão cedo não terás novas minhas."

Rui Veloso


sexta-feira, 20 de agosto de 2004

"FADO DAS SAUDADES"

"Saudades de alguém ausente
devem ser tristes, decerto;
mas são mais tristes se a gente
as tem de alguém que está perto.

Mais triste do que esperar,
toda a vida, quem não vem,
é toda a vida passar
sem ter de esperar alguém."

Letra: Leonel Neves
Música: Armando Goes


quinta-feira, 19 de agosto de 2004

o meu acordar

Saí pela manhã, mas bem mais cedo que o habitual, procurando, talvez, uma hora de refúgio só para mim, como o café antes das aulas.

O vento frio, que se faz sentir, inacreditavelmente, em Agosto, acordou os cabelos húmidos, culminando num arrepio outonal.

De headphones nos ouvidos, ao som habitual da RFM, cantarolei Queen (I wanna love you, love you, love you...) em plena rua da Restauração. A já tardia chuva, perante o negro do céu, deu os primeiros sinais.

Apressei o passo em direcção a lugar nenhum, até ao pastel de nata mais próximo.

-Bom dia! Um pastel de nata e um café...

Hoje não me sentei, aguardando pela hora do trabalho (que ocupou o dia todo).

Com o pastel a queimar na mão e com os jornais debaixo do braço, parei debaixo da Arcada.

O céu escuro da Praça da República rasgou-se de raios de sol, os quais, aparentemente, impulsionaram a chuva. O caminho da chuva culminou na fonte principal da praça, onde se abria um arco-íris enorme e tão próximo.

Há dias em que sabe mesmo bem não acordar na cama...


quarta-feira, 18 de agosto de 2004

Porque há sonhos e sonhos...

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A 28 de Agosto de 1963, Marthin Luther King proclamou "I have a dream", discurso que lançou um novo rumo ao Movimento Americano pelos Direitos Civis.
Perante mais de 200.000 pessoas, suportado pela imagem de Lincoln à sua retaguarda, aclamou o direito de voto e igualdade para todos os afro-americanos, apelando, mais uma vez, ao fim da segregação racial.
Aqui fica um "cheirinho" do que foi ouvido no Memorial Lincoln em Washington:

"I have a dream that one day this nation will rise up and live out the true meaning of its creed: “We hold these truths to be self-evident: that all men are created equal.” I have a dream that one day on the red hills of Georgia the sons of former slaves and the sons of former slaveowners will be able to sit down together at a table of brotherhood. I have a dream that one day even the state of Mississippi, a desert state, sweltering with the heat of injustice and oppression, will be transformed into an oasis of freedom and justice. I have a dream that my four children will one day live in a nation where they will not be judged by the color of their skin but by the content of their character. I have a dream today."


quinta-feira, 12 de agosto de 2004

"árvore"

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"entre gigantes
que bailam no ar
nasceste, cria
de um outro criador.
transcendes no interior
a força fantástica da terra
a criação mágica da cor.
condenada transmutação
de um qualquer crepitar,
de um qualquer outro som."

Cândido Sobreiro


terça-feira, 10 de agosto de 2004

A minha caixinha

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Abri a minha caixinha de recordações, selada com as marcas das descobertas constantes. Ali encontrei momentos de feitiço, de vivências únicas, relembrei aromas, os sabores, os rostos esquecidos.

Com pequenos símbolos, que hoje raptei do passado, percebi porque “recordar é viver”.

Vivi o meu primeiro dia de escola, cumprimentei as caras desconhecidas (para mim), que me olhavam como terreno por desvendar, puxei uma cadeira proporcional ao tamanho de quem quer aprender a escrever, pendurei a mochila encarnada, senti a dor de barriga ansiosa pela chegada do meu pai, percorri a pé o caminho de volta a casa, voltei a assustar-me com o cão que ladrou à nossa passagem.

Pulei uns aninhos e voltei a apaixonar-me por alguém de rosto rechonchudo, de olhos grandes, a mesma pessoa de quem recebi o meu primeiro presente de São Valentim: um chupa enorme em forma de coração, o qual acabei por partilhar com dois gulosos com quem compartilhei e compartilho grandes episódios de vida.

Mais uns aninhos e o rosto rechonchudo ganhou outra forma, idealizou conquistas, pegou na guitarra e juntos subimos a um palco, onde a voz nervosa se acalmou com os primeiros acordes.

Depois…o primeiro amor e com ele o primeiro beijo, os abraços escondidos, as promessas feitas olhos nos olhos. Com ele a primeira desilusão, a primeira noite sem dormir, as primeiras confissões ao travesseiro.

Hoje, na caixinha das memórias voltei a viajar com os meus amigos pela primeira vez, do cimo do castelo fizemos caretas para a fotografia, corremos pelas ruas estranhas, demos abraços e partilhamos o primeiro cigarro, a primeira saída à noite, o primeiro nascer do sol em conjunto.

Continuei a escrever a minha história.

No virar da folha, vi pela primeira vez o rosto ao lado do qual construí a primeira relação séria. A pessoa de quem ouvi receios de me perder, na qual depositei tudo o que tinha para dar, a primeira pessoa cujo amor ruiu com as tentativas de me privar do meu próprio destino.

Voltei a ver morrer pessoas com quem, erradamente, me imaginei a viver lado a lado.

Vivi a despedida mais dolorosa, onde as lágrimas não caíram para dar incentivo a quem mais precisava. O primeiro telefonema após a partida, onde se encobriram soluços de saudade.

Naquela caixinha vi-me sentada a um canto, sem vontade para me erguer. Mas, daquele canto fui resgatada pelo melhor que podemos ter na vida: os amigos.

Da caixa já foram, neste momento, retirados, quase todos os objectos do passado. Para reviver faltam, somente, os primeiros passos na universidade. Momentos que, certamente, me foram concedidos para me conhecer. Um mundo novo, onde conheci pessoas de uma alma imensa, com sonhos análogos aos meus. Um mundo, onde encontrei um novo amor. Com quem desejo desbravar novos caminhos, vivendo pela primeira vez uma canção em uníssono.


sábado, 7 de agosto de 2004

"Festa Salgada"

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"O mar entrga-se num pranto de espuma
comemora a minha vinda com o seu melhor champanhe
nas rolhas rochosas que se espalham por aí

as gaivotas formam borbulhas
que rebentam no limiar
do cálice recortado pela areia

é um brinde que termina em tristeza
e vem, por fim, aos meus pés morrer
sem champanhe
sem espuma
sem nada"

Carlos Rodrigues Vaz


quinta-feira, 5 de agosto de 2004

"Beijo"

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"Não posso deixar que te leve
O castigo da ausência,
Vou ficar a esperar
E vais ver-me lutar
Para que esse mar não nos vença.
Não posso pensar que esta noite
Adormeço sozinho,
Vou ficar a escrever,
E talvez vá vencer
O teu longo caminho.
Quero que saibas
Que sem ti não há lua,
Nem as árvores crescem,
Ou as mãos amanhecem
Entre as sombras da rua.
Leva os meus braços,
Esconde-te em mim,
Que a dor do silêncio
Contigo eu venço
Num beijo assim.
Não posso deixar de sentir-te
Na memória das mãos,
Vou ficar a despir-te,
E talvez ouça rir-te
Nas paredes, no chão.
Não posso mentir que as lágrimas
São saudades do beijo,
Vou ficar mais despido
Que um corpo vencido,
Perdido em desejo.
Quero que saibas
Que sem ti não há lua,
Nem as árvores crescem,
Ou as mãos amanhecem
Entre as sombras da rua."

Pedro Abrunhosa


quarta-feira, 4 de agosto de 2004

"Amar é a melhor coisa do mundo"

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porque melhor do que ser amada é amar...


"Meu chocolate"

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"Ao leite ou derretido
Com passas ou crocante
Puro ou pervertido
Com recheio
É excitante
Eu saboreio
Te mordo
E meu corpo todo
Lambuzada
Chocolate
Fina arte
Transformada
Misturada
Ao sabor supremo
Meu chocolate
Meu veneno
Você é arte
Só você extermina
Minha melancolia
Você,
serotonina
Que me vicia"

Liz Christine


terça-feira, 3 de agosto de 2004

Mad world

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All around me are familiar faces
Worn out places
Worn out faces
Bright and early for the daily races
Going no where
Going no where
Their tears are filling up their glasses
No expression
No expression
Hide my head I wanna drown my sorrow
No tomorrow
No tomorrow
And I find it kind of funny
I find it kind of sad
The dreams in which I’m dying are the best I’ve ever had
I find it hard to tell you
I find it hard to take
When people run in circles its a very very
Mad world
Mad world
Children waiting for the day they feel good
Happy birthday
Happy birthday
And I feel the way that every child should
Sit and listen
Sit and listen
Went to school and I was very nervous
No one knew me
No one knew me
Hello teacher tell me what’s my lesson
Look right through me
Look right through me
And I find it kind of funny
I find it kind of sad
The dreams in which I’m dying are the best I’ve ever had
I find it hard to tell you
I find it hard to take
When people run in circles its a very very
Mad world
Mad world
Enlarging your world


Mad world

Gary Jules


Tocou-me de um modo particular...

Havia prometido partilhar convosco o acontecimento que mais me chocou, ao longo do livro “Se isto é um Homem” (de Levi). Assim, aqui fica um excerto desse episódio. É um bocadinho longo, mas vale a pena ler.

“Deve passar das vinte e três horas, pois já há um intenso vaivém até ao balde, ao pé do guarda da noite. É um tormento obsceno e uma vergonha indelével: de duas em duas, de três em três horas, temos de nos levantar, para nos libertarmos da grande dose de água que de dia somos obrigados a absorver sob a forma de sopa, para satisfazer a fome; é a mesma água que de noite nos incha os tornozelos e as olheiras, conferindo a todas as fisionomias um aspecto deformado, e cuja eliminação impõe aos rins um trabalho desgastante.
Não se trata só da procissão ao balde; está prescrito que o último utente do balde vá esvaziá-lo na latrina; está prescrito também que de noite não se sai da barraca a não ser em traje de dormir (camisa e cuecas), após a entrega do nosso número ao guarda. Por consequência, é fácil de prever que o guarda da noite procurará exonerar do serviço os seus amigos, os seus companheiros e os proeminentes (…) De repente, o guarda da noite aparece do seu canto e agarra-nos, escrevinha o nosso número, entrega-nos um par de socas de madeira e o balde, e atira-nos para fora no meio da neve, trementes e cheios de sono. Não nos resta senão arrastar-nos até à latrina, com o balde enjoativamente quente a bater contra as pernas nuas; está cheio para além de qualquer limite razoável e, inevitavelmente, com os solavancos, uma parte entorna-se sobre os nossos pés, de forma que, apesar de repugnante, é sempre preferível sermos nós a cumprir esta função que o nosso vizinho de cama.” (uma vez que as pessoas que partilham a cama deitam-se em posições inversas, ficando os pés de um junto à cabeça do outro).


segunda-feira, 2 de agosto de 2004

Mimo?!?!

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Lembro-me perfeitamente do dia em que esta coisa fofa chegou. Tinha tido um dia horrível (já não me lembro porquê), o que me fez apanhar o autocarro com o circuito mais longo...para chegar a casa com a cabeça em ordem.
Quando abri a porta, lá estava o meu irmão com um gatinho, tão pequenino que lhe cabia na palma da mão...lindo, fofo...um Mimo (nome com o qual foi baptizado).
Mas hoje, mais de dois anos depois...o meu gatinho, perdeu um bocadinho o encanto...olhei-o como um felino (o que ele é realmente!).
Há alguns dias que estranhava o facto do meu "mingacho" comer menos que o habitual, mas continuava pesado e robusto!?!?!? Não é que hoje, olho pela janela e vejo a criatura (de nome MIMO) com o focinho revestido a penas!!!! E no chão, entre as duas patas dianteiras, um pássaro "gozava" os últimos segundos de vida...
Andámos nós a criar os animais para isto!!!!