Ritual
Sentada na cama, visto com cuidado as meias de vidro pretas. Com sorte não se rasgam e não preciso de procurar outras. Segue-se a camisa, branca e os infindáveis botões, que o tempo se encarregou de me permitir abotoar sozinha.
A saia preta que se ajusta perfeitamente ao corpo, que aperto à frente e rodo para que os botões fiquem atrás. Segue-se o casaco, que cai sobre os ombros. Os dedos deslizam pelas casas dos últimos botões. Ajeito as fitas, metade cinza e metade rubi...lindas!!!
Pego no tricórnio pelo bico da frente, encosto-o à testa e ajeito-o na cabeça.
Depois, vem a capa....negra, o cheiro inconfundível do uso. Dobro-a, já com destreza e pego-a pelo braço. Olho para o chão e sinto a dor que será calçar aqueles sapatos, mas sorrio....porque não há nada melhor que a vida de estudante.
A capa acompanhou-me nesta viagem. Não tinha coragem de deixar tudo para trás. E por vezes dá vontade de a traçar, mesmo com calça de ganga e sapatilhas.
E não me digam que isso é desonrar o traje...