Dentro de Mim

"Aqui começa o meu descampado Ou o meu jardim cultivado; Aqui começa a minha queda vertiginosa Ou a minha entrada gloriosa; Aqui, somente aqui, Começa o que jamais acabará aqui; Aqui serei muito ou serei pouco, Serei pobre ou serei louco, Serei charco, lago, rio ou mar Serei o que conquistar Aqui serei o que tu quiseres E o que eu quiser, Mas é aqui que tudo começa Aqui e nada mais do que aqui" - Vasco Gonçalves

sexta-feira, 28 de outubro de 2005

Convite da Loucura



"A Loucura resolveu convidar os amigos para tomar um café em sua casa.
Todos os convidados foram. Após o café, a Loucura propôs:
Vamos brincar ao esconde-esconde?
-Esconde-esconde? O que é isso? - perguntou a Curiosidade.
- Esconde-esconde é uma brincadeira. Eu conto até cem e vocês escondem-se. Ao terminar de contar, eu vou procurar, e o primeiro a ser encontrado será o próximo a contar. Todos aceitaram, menos o Medo e a Preguiça
-1,2,3,... - a Loucura começou a contar.
A Pressa escondeu-se primeiro, num lugar qualquer.
A Timidez, tímida como sempre, escondeu-se na copa de uma árvore. A Alegria correu para o meio do jardim. Já a Tristeza começou a chorar, pois não encontrava um local apropriado para se esconder. A Inveja acompanhou o Triunfo e escondeu-se perto dele debaixo de uma pedra. A Loucura continuava a contar e os seus amigos iam-se escondendo. O Desespero ficou desesperado ao ver que a Loucura já estava no noventa e nove.
- CEM! - gritou a Loucura. - Vou começar a procurar...A primeira a aparecer foi a Curiosidade, já que não aguentava mais, queria saber quem seria o próximo a contar. Ao olhar para o lado, a Loucura viu a Dúvida em cima de uma cerca sem saber em qual dos lados ficar para melhor se esconder. E assim foram aparecendo a Alegria, a Tristeza, a Timidez... Quando estavam todos reunidos, a Curiosidade perguntou: Onde está o Amor? Ninguém o tinha visto. A Loucura começou a procurá-lo.
Procurou em cima da montanha, nos rios, debaixo das pedras e nada do Amor aparecer.
Procurando por todos os lados, a Loucura viu uma roseira, pegou num pauzinho e começou a procurar entre os galhos, quando de repente ouviu um grito. Era o Amor, gritava por ter furado o olho com um espinho. A Loucura não sabia o que fazer. Pediu desculpas, implorou pelo perdão do Amor e até prometeu segui-lo para sempre. O Amor aceitou as desculpas.
Hoje, o Amor é cego e a Loucura acompanha-o sempre."


....para mim o amor não é cego, apenas vê a realidade com outros olhos...

terça-feira, 18 de outubro de 2005

Tributo a ontem...

"Idílio"

"Quando nós vamos ambos, de mãos dadas,
Colher nos vales lírios e boninas,
E galgamos dum fôlego as colinas
Dos rocios da noite inda orvalhadas;

Ou, vendo o mar das ermas cumeadas
Contemplamos as nuvens vespertinas,
Que parecem fantásticas ruínas
Ao longo, no horizonte, amontoadas:

Quantas vezes, de súbito, emudeces!
Não sei que luz no teu olhar flutua;
Sinto tremer-te a mão e empalideces

O vento e o mar murmuram orações,
E a poesia das coisas se insinua
Lenta e amorosa em nossos corações."

Antero de Quental

Como eu gostava de ter andado de mãos dadas contigo e permanecer, assim, por horas, olhando, quem sabe, uma montanha, um vale, uma onda...naquele que foi o nosso dia.

domingo, 9 de outubro de 2005

o lugar dos momentos



Uma página do nosso livro virou-se e começou, definitivamente, uma nova etapa para o "nós" que construímos. E como todas as mudanças, também esta atracou a si o receio habitual.
Perdemos um lugar que acompanhou os nossos primeiros passos, um lugar onde os segredos se desvendaram, onde tantas vezes deixámos o nosso coração descansar. Era um lugar onde nos sabíamos um do outro, onde por vezes a verdade magoou, mas um lugar onde nos unimos, onde percebemos o que estava a acontecer.
Quantas vezes entrei pé ante pé, abri a porta que dava para o escurinho e o quentinho do teu quarto e, ouvindo a chuva a cair lá fora, te sussurrei ao ouvido "Bom dia amor"....E, assim, perdíamos umas aulinhas, mas ganhávamos o que de melhor a vida nos pôde dar: momentos eternos.
Amor, quantas vezes fugimos da chuva e do frio desta cidade e corremos para um sofá, cobertos pelas nossas capas negras?
São tantos momentos, tantas emoções, tantas confidências que aquelas paredes irão guardar...
Um dia gostava de voltar lá e, por momentos, ver a porta de entrada entreaberta, entrar e ver a luz do candeeiro da sala, sentir o cheirinho da tua comida, sentar-me a ouvir rádio, à espera que viesses ter comigo. E depois, depois amor...adormecíamos ali até a vontade nos despertar.

sábado, 1 de outubro de 2005




"Escrevemos o nome no céu,
Com mil passos de dança por dar,
E mostraste-me um mundo só teu
Com promessas de ir e voltar

E eu estou aqui,
eu estou aqui.

Trouxeste tanto que me querias contar
Sobre as cidades que há no fundo do mar

E eu estou aqui, eu estou aqui
Estamos tão perto de estar tão longe.
Como dois loucos na madrugada,
Se me dás tudo, ficas com nada
E abrem-se janelas em nós

Acendi as palavras na pele,
Em tatuagens brilhantes de azul
E pousaste-me um beijo fiel
Em telhados de vento e de sul

E eu estou aqui,
eu estou aqui...

Trouxeste tanto que me querias contar
Sobre as cidades que há no fundo do mar

E eu estou aqui, eu estou aqui.
Estamos tão perto de estar tão longe.
Como dois loucos na madrugada,
Se me dás tudo, ficas com nada
E abrem-se janelas em nós"

Pedro Abrunhosa (de quem mais poderia ser?)