Dentro de Mim

"Aqui começa o meu descampado Ou o meu jardim cultivado; Aqui começa a minha queda vertiginosa Ou a minha entrada gloriosa; Aqui, somente aqui, Começa o que jamais acabará aqui; Aqui serei muito ou serei pouco, Serei pobre ou serei louco, Serei charco, lago, rio ou mar Serei o que conquistar Aqui serei o que tu quiseres E o que eu quiser, Mas é aqui que tudo começa Aqui e nada mais do que aqui" - Vasco Gonçalves

sexta-feira, 8 de abril de 2005

Talento escondido

" Dignidade cercada"

"Vejo-me mergulhado no desespero reinante, na iminência do ataque dos que me cercam. Passaram já 26 dias desde que cercaram a minha cidade. A fome é incomensurável e inexorável é o seu efeito. Os poucos mantimentos que haviam desapareceram quase à velocidade da luz, como se de farinha num saco roto se tratasse.
Que precário estilo de vida que eu vivo, é inóspito o local onde vivo, onde todos me olham como se eu fosse roubar a pequena porção de pão que eles ali encontraram.
Dou por mim a pensar nos meus pais, que tanto amo. Eles que me deixaram partir para esta cidade, com o intuito de melhorar as minhas condições de vida.
Dou por mim a pensar na morte, essa que é como uma mangueira jorrando água em máxima potência, não escolhe direções e vai levando quantos puder...
Quão desumano que é passar fome e sede! As feridas nos meus lábios são incontáveis, a dor incessante é agora para mim algo banal: Já faz parte de quem sou. A minha banalidade é sentir dores d barriga, nos lábios (as gretas fazem com que os meus lábios pareçam fechados para todo o sempre já que as gretas parecem linha...) nas pernas que não suportam o meu peso porque não há enegia, não há força. Já não há alimentos! A única dor à qual não fico indiferente, não é física, é aquela que sinto ao dividir um pão por sete amigos - a minha presente família.
Este silêncio ensurdecedor que é viver numa cidade sem barulhos excepto o dos esporádicos e incontornáveis gemidos produzidos como consequência de uma constante agonia - onde se vê 1 mulher com 1 filho de poucos meses jazendo em seus braços, mas a mulher nem força para gritar tem! Ela esta apenas chorando silênciosamente, vertendo lágrimas ensanguentadas. Pura ilusão: o sangue é do excerto de porrada que ela levara horas antes, na sequência da inconsequente tentativa de roubar um pouco de comida para ao menos iludir a fome aos seus filhos.
Choro ao ver crianças ensanguentadas e esfomeadas, lutando com com um par de ratazanas, afastando-as e roubando as migalhas pelas quais os bichos se alimentavam.
Choro ao ver pessoas se enforcando, baixando os braços da luta pela própia vida, tão grande era o desespero.
choro ao ver a indiferença dos autores do cerco perante a dor catastrófica que vejo espalhar-se cada vez mais á minha volta, dor da qual nós não sairemos incólumes."

Márcio Matos

3 Comments:

  • At 3:04 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Pois é, realmente um talento escondido. Talvez um dia seja dado o devido valor ou então pelo menos poder usufruir das capacidades em algo k t ajude na vida (ñ, ñ é só pro bling-bling lol). parabens moço! tou out

     
  • At 3:07 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Bem ñ é por seres da minha turma e pa tar a dar graxa mx escreves msm totil bem??ja penxast escrever um livro ou coixa axim parexida??!!adorei exte texto k escrevest!!!PARABENS!!!!jinhus fika benne

     
  • At 6:01 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Parabéns!!Fogo!!!!!!!!Tu és akela pexoa k olhamos e nunca imaginamos k poxas ter um talento tão grande na escreita! De facto és de letras!É fantástico,parece k estás a viver akele momento, ou então pareces estar presente!Parabéns Márcio,e continua a escrever... bjx ffx.

     

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