"Aqui começa o meu descampado
Ou o meu jardim cultivado;
Aqui começa a minha queda vertiginosa
Ou a minha entrada gloriosa;
Aqui, somente aqui,
Começa o que jamais acabará aqui;
Aqui serei muito ou serei pouco,
Serei pobre ou serei louco,
Serei charco, lago, rio ou mar
Serei o que conquistar
Aqui serei o que tu quiseres
E o que eu quiser,
Mas é aqui que tudo começa
Aqui e nada mais do que aqui" - Vasco Gonçalves
domingo, 28 de janeiro de 2007
"Nostalgia"
"Nesse País de lenda, que me encanta, Ficaram meus brocados, que despi, E as jóias que plas aias reparti Como outras rosas de Rainha Santa!
Tanta opala que eu tinha! Tanta, tanta! Foi por lá que as semeei e que as perdi... Mostrem-se esse País onde eu nasci! Mostrem-me o Reino de que eu sou Infanta!
Ó meu País de sonho e de ansiedade, Não sei se esta quimera que me assombra, É feita de mentira ou de verdade!
Quero voltar! Não sei por onde vim... Ah! Não ser mais que a sombra duma sombra Por entre tanta sombra igual a mim!"
É inacreditável como em tão pouco tempo criamos laços com pessoas que há poucos meses desconheciamos. Lembro-me perfeitamente da primeira vez que via esta menina austríaca, soridente, a pronunciar um "Olá" com um sotaque muito engraçado. A pensar que tinhamos um semestre pela frente, e passou tão rápido....
Este pequenino post é só para agradecer ao meu amigão pela paciência nos piores momentos, pelo beijo de boas noites (mesmo às 4 da manha), por acordar com um sorriso em qualquer situação, por saber quando eu não gosto de ficar sozinha, por cozinhar na minha vez, por me fazer acreditar que posso contar com ele. SEMPRE.
Ela gostava de flores no cabelo, de vestidos cor-de-rosa e de sonhar com histórias de amor. Entre os berlindes, ele guardava o papel amarrotado, confidente das palavras sinceras que ela lhe confiara. Pela manhã ele carregava-lhe a mochila em troca do rebuçado costumeiro. O caminho era feito em silêncio, interrompido, de quando em quando, pelo assobio nervoso. Na porta da escola, enquanto ela subia os primeiros degraus, ele ganhou coragem e chamou-a: “Sara”!!! Ao voltar-se a saia rodou e os cabelos claros resplandeceram nos raios de sol primaveris. “Sim?” disse sorrindo. “Queres ser minha namorada?” Olhou para o chão e desceu os degraus. Olhou-o de frente e beijou-o de olhos bem fechados.
Nos jeans amarrotados guardou o bilhete de comboio. Sentou-se junto à janela sem tirar os olhos dela. Trincou levemente os lábios e correu antes que as portas fechassem para a partida. “Vou no próximo, afinal só te vejo na próxima segunda”. Ela olhou o relógio da estação. “Este era o último, amor!!!” Tirou o telemóvel da mochila e digitou rapidamente: “Mãe, trabalhos d fakuldad já ñ tenho comboio pra voltar. Prometo k vou no próximo fim-de-semana. Bjs” Abraçou-o com força, sussurrando-lhe ao ouvido: “Sabias que te amo?”
Há quatro meses naquele país estranho, já se habituara à língua estranha e ao clima agressivo que detestava. Desligou o computador, acendeu a luz da secretária e recostou-se na cadeira negra de cabedal. Sentiu-se só. Longe. Perdida. Quatro horas mais tarde o alarme soou ao longe. Abriu os olhos e percebeu que passara a noite ali. Sem vontade arrastou-se para um banho rápido. Escolheu a roupa sem cuidado. “Para quê?” pensava. Correu até ao elevador, premiu o botão freneticamente e nada. Mais uma vez e nada. Por trás de si, soou uma voz grave. Voltou-se para tentar descodificar aquele sotaque cerrado. “Que bom!!! Avariado!!! Vamos lá descer 12 andares!!” Ele seguia-a, rindo-se das suas palavras de lamentação. Aqui e ali ele corrigia-lhe a pronuncia imperfeita, deixando-a ainda mais irritada. Sete andares abaixo, apercebeu-se dos traços amáveis do homem que a seguia. Abrandou o passo, sorriu-lhe e voltou a acreditar nos primeiros olhares.
As rugas da vida tornaram-na ainda mais bela. Apoiada no seu braço olhou-o pelo canto dos olhos e resmungou baixinho: “Não precisávamos de ir os dois à padaria, já sabes que nos vamos atrasar”. Do alto, Alfredo olhou-a afavelmente, gracejando “Eu não te aturo mais cinquenta anos pequenina”. Percorreram a calçada do jardim central, passaram a igreja, o banco de jardim, o vendedor de pipocas, desceram a rua da esquerda e no cruzamento da avenida ela avistou algo fora do normal. “O que é aquilo além?”, perguntou franzindo os olhos. Ele manteve-se calado e levantou a mão gesticulando para que os músicos mais à frente prosseguissem com o combinado. O primeiro acorde despertou-a. Ela não conseguiu acreditar e olhou-o. “Sim, Maria! Escuta! Muitos Parabéns!” “Parabéns meu amor!” A dança começou e com ela voltaram as lembranças de um bailado de Verão há muitos anos atrás.
Histórias de amor. Perdem-se no tempo, esquecem-se nas horas, desaparecem com o passar das estações. Mas para quem as viveu são lembranças de sorrisos abertos, de arrepios desejosos, de lágrimas escondidas.