Histórias de amor.
Histórias de amor.
Ela gostava de flores no cabelo, de vestidos cor-de-rosa e de sonhar com histórias de amor.
Entre os berlindes, ele guardava o papel amarrotado, confidente das palavras sinceras que ela lhe confiara.
Pela manhã ele carregava-lhe a mochila em troca do rebuçado costumeiro. O caminho era feito em silêncio, interrompido, de quando em quando, pelo assobio nervoso.
Na porta da escola, enquanto ela subia os primeiros degraus, ele ganhou coragem e chamou-a: “Sara”!!!
Ao voltar-se a saia rodou e os cabelos claros resplandeceram nos raios de sol primaveris.
“Sim?” disse sorrindo. “Queres ser minha namorada?”
Olhou para o chão e desceu os degraus. Olhou-o de frente e beijou-o de olhos bem fechados.
Nos jeans amarrotados guardou o bilhete de comboio. Sentou-se junto à janela sem tirar os olhos dela. Trincou levemente os lábios e correu antes que as portas fechassem para a partida.
“Vou no próximo, afinal só te vejo na próxima segunda”.
Ela olhou o relógio da estação.
“Este era o último, amor!!!”
Tirou o telemóvel da mochila e digitou rapidamente: “Mãe, trabalhos d fakuldad já ñ tenho comboio pra voltar. Prometo k vou no próximo fim-de-semana. Bjs”
Abraçou-o com força, sussurrando-lhe ao ouvido: “Sabias que te amo?”
Há quatro meses naquele país estranho, já se habituara à língua estranha e ao clima agressivo que detestava. Desligou o computador, acendeu a luz da secretária e recostou-se na cadeira negra de cabedal. Sentiu-se só. Longe. Perdida.
Quatro horas mais tarde o alarme soou ao longe. Abriu os olhos e percebeu que passara a noite ali. Sem vontade arrastou-se para um banho rápido. Escolheu a roupa sem cuidado. “Para quê?” pensava.
Correu até ao elevador, premiu o botão freneticamente e nada. Mais uma vez e nada. Por trás de si, soou uma voz grave. Voltou-se para tentar descodificar aquele sotaque cerrado.
“Que bom!!! Avariado!!! Vamos lá descer 12 andares!!”
Ele seguia-a, rindo-se das suas palavras de lamentação. Aqui e ali ele corrigia-lhe a pronuncia imperfeita, deixando-a ainda mais irritada.
Sete andares abaixo, apercebeu-se dos traços amáveis do homem que a seguia. Abrandou o passo, sorriu-lhe e voltou a acreditar nos primeiros olhares.
As rugas da vida tornaram-na ainda mais bela. Apoiada no seu braço olhou-o pelo canto dos olhos e resmungou baixinho: “Não precisávamos de ir os dois à padaria, já sabes que nos vamos atrasar”. Do alto, Alfredo olhou-a afavelmente, gracejando “Eu não te aturo mais cinquenta anos pequenina”.
Percorreram a calçada do jardim central, passaram a igreja, o banco de jardim, o vendedor de pipocas, desceram a rua da esquerda e no cruzamento da avenida ela avistou algo fora do normal.
“O que é aquilo além?”, perguntou franzindo os olhos.
Ele manteve-se calado e levantou a mão gesticulando para que os músicos mais à frente prosseguissem com o combinado.
O primeiro acorde despertou-a. Ela não conseguiu acreditar e olhou-o.
“Sim, Maria! Escuta! Muitos Parabéns!”
“Parabéns meu amor!”
A dança começou e com ela voltaram as lembranças de um bailado de Verão há muitos anos atrás.
Histórias de amor. Perdem-se no tempo, esquecem-se nas horas, desaparecem com o passar das estações. Mas para quem as viveu são lembranças de sorrisos abertos, de arrepios desejosos, de lágrimas escondidas.
Eu ainda acredito…
5 Comments:
At 5:20 da manhã, Anónimo said…
Eu também acledito!!!
At 6:28 da tarde, ... said…
lindo!..vale sp apena acreditar :')
At 6:28 da tarde, ... said…
lindo!..vale sp apena acreditar :')
At 7:02 da tarde, Monique Mendes said…
La no fundo ainda todos acreditamos, mas vai-se tornando muito dificil acreditar!
Beijao mulherao :P
At 6:51 da tarde, Anónimo said…
Afinal já não acledito!!! A minha aparência tenebrosa não permite!!!
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