Dentro de Mim

"Aqui começa o meu descampado Ou o meu jardim cultivado; Aqui começa a minha queda vertiginosa Ou a minha entrada gloriosa; Aqui, somente aqui, Começa o que jamais acabará aqui; Aqui serei muito ou serei pouco, Serei pobre ou serei louco, Serei charco, lago, rio ou mar Serei o que conquistar Aqui serei o que tu quiseres E o que eu quiser, Mas é aqui que tudo começa Aqui e nada mais do que aqui" - Vasco Gonçalves

domingo, 6 de fevereiro de 2005

Lembrando-se


("Douro ao luar" de Sérgio Pinto)

No silêncio, que a noite trás preso a si, contam-se segredos nas pálidas paredes, cúmplices de tantos e tantos amores esquecidos.
O coração solitário reage com um suspiro à música de dois corpos, vivendo dias de alegria, enquanto na memória renasce o sorriso da história que um dia se escrevera nos seus longos cabelos.
Sozinha, encostada na sua sombra, recorda o rosto que a fizera mulher…lembra o que as estrelas haviam esquecido, o que o sol ocultara, o que a lua escondia, mas que reavivava a alma deserta de sentimentos.

…vestia o habitual, mas como lhe parecia bonito, ainda ao longe. Paulatinamente foi ao seu encontro, como se de um ritual se tratasse, fechou os olhos e aguardou.
Ele olhou-a, sem pronunciar qualquer palavra, encostou, como habitualmente, a flor ao rosto e, lentamente, fê-la deslizar até ao colo, onde só a sua respiração se fazia sentir.
- Uma rosa! - adivinhou sem hesitação.
Abriu os olhos e viu diante de si a mais pura vitória de amor. Era seu, como ela dele, mas como ninguém havia sido de outrem.
- Venceremos, meu amor! - sorrindo.
Nessa altura, o sol punha-se, como se as luzes se quebrassem para privar o mundo do mais belo sentimento.
Descalços, correram, de mãos dadas, até ao mar, onde mergulharam unidos, sabendo que amando-se construiriam a ilusão.
Puxou-a para si, e enquanto a levantava na água, beijou-a com todo o seu ser.
-Vês, amor? A luz brilha até na escuridão.
Ela sorriu e, astutamente, saiu da água a correr, olhando uma única vez para trás, certificando-se de que a seguia.
Na praia vazia, ecoaram os risos inocentes, calando-se quando ambos se enrolaram pela areia…
Parados. Deitados lado a lado, olhando o céu, deram as mãos e gravaram na areia um abraço de cumplicidade.

….histórias passadas, marcadas nas rugas das mãos, que contemplava no escuro das ruelas, aquelas ruelas que serviam de muralha à ribeira que não ousava percorrer, temendo lembranças que o coração não conseguisse acompanhar.

1 Comments:

Enviar um comentário

<< Home